Em um fim de domingo do gélido mês de junho Liz voltava do parque de diversões com o seu namorado, Mateus. O jovem rapaz estava feliz por ter levado a namorada para sair e acreditava que a mesma tinha passado uma boa tarde junto dele.
Enquanto percorriam a saída do parque Mateus tagarelava algo sobre sua faculdade, não era um assunto banal contudo também não era interessante o suficiente para tirar a grande preocupação que Liz tinha em sua mente naquele momento.
- … mas o professor de ética concordou com o que eu disse… – dizia o namorado.
- Eu não te amo mais. – com insegurança do que dizia, a garota interrompeu a incansável falação do jovem.
Apesar de não ter entendido o que a namorada havia dito, Mateus percebeu pela sua expressão facial que algo não estava certo. Eles pararam em uma calçada ao lado do parque, onde via-se ao fundo a brilhante luz do crepúsculo reluzindo os coloridos ferros metálicos de uma antiga roda gigante.
- O que você disse?
- Eu não te amo mais, Mateus. – e dessa vez ela repetiu com mais segurança.
De início o jovem pensou que fosse uma brincadeira de Liz. Seus olhos se distanciaram da namorada; ele riu por alguns segundos mas não ouviu a namorada rindo e nem se quer a ouviu dizer que estava mentindo. Novamente ele a olhou, ela permanecia firme e convicta do que havia dito. Mateus sentiu medo, porém estava tão confuso que ainda acreditava que a garota fosse rir a qualquer momento dizendo que aquilo tudo não passava de uma pegadinha.
- O que é que você está dizendo?
- Acabou, eu já não sinto mais nada por você. – seus olhos revelavam um profundo vazio.
- Isso é sério, Liz?
Ela apenas balançou a cabeça. E de forma honrosa não deixou de olhar nos olhos do namorado um só minuto.
- Há umas horas atrás você me abraçou e disse que me amava. Era mentira então?
- Não. Aquilo foi verdadeiro.
Mateus soltou uma risada baixa e sarcástica. Ele olhou para o lado e mais confuso ainda perguntou:
- Como é possível? Como é possível alguém amar uma pessoa numa hora e em outra não amar mais?
- O amor é como uma flor. Uma hora ela murcha, uma hora ela perde a cor e desencanta.
- Não Liz, o amor não é somente como a flor. O amor é como a roseira inteira. Se vc souber cuidar dela, ela crescerá e terá flores. Não vou dizer que as flores nunca vão murchar. Vão sim, no entanto adubando com doses de amor todos os dias, regando com atenção e aparando as pontas secas, novas flores nascerão.
Os olhos da jovem transbordavam de tristeza mas ela ainda fitava os olhos dele.
- O jardineiro pode enjoar da roseira, não pode?
- Se o fizer a roseira morre. – disse Mateus com uma expressão mais triste que já fizera.
- Ela supera! Existem outros jardineiros que podem se interessar por ela. – Liz pausou – Acabou.
A garota se virou de costas para o namorado e desceu a rua sozinha. Já Mateus ficou lá parado, chorando e sem pétalas.
Enquanto voltava para casa Liz se sentia profundamente triste. O que ela havia acabado de fazer doía muito, pois ela sabia o quanto Mateus a amava. Não obstante ela queria alguém que ela amasse também. Alguém que não ficasse o dia todo falando de seus problemas na faculdade ou no trabalho, alguém que a fizesse realmente feliz e simplesmente alguém que não deixasse sua flor murchar. Mateus não tinha entendido isso.
Entrando em seu bairro, a garota avistou dois velhinhos sentados em uma cadeira de madeira na varanda, o senhor porém numa de rodas. Eles não estavam fazendo nada. Apenas olhavam o jardim e pareciam felizes. Ela então pensou: Será que eu encontrarei a minha roseira um dia? Ou será que não existem roseiras perfeitas para seus jardineiros? Isso a deixou intrigada. Embora não amasse mais Mateus e o mesmo não fosse perfeito, ele era bom com ela e a amava.
Liz parou e ficou olhando o casal de idosos. A senhora levantou, entrou na casa e pegou um cobertor. Ela cobriu o marido e se enfiou de baixo da ponta que ainda restava. Ele deu um sorriso para ela, como se agradecesse, e voltou a olhar o jardim.
Aquilo fez o coração de Liz voltar a bater. Ela então deu meia volta e começou a correr em direção ao parque. Conforme ia se aproximando do lugar ela chorava incansavelmente com medo de ter cometido um erro. Do fim da rua, de onde já podia ver a roda gigante, Liz avistou uma ambulância e algumas viaturas de polícia. Ela correu ainda mais.
Ao chegar na entrada, a garota via pessoas saindo horrorizadas. O parque estava sendo evacuado. Liz então perguntou a um menino, de mais ou menos doze anos, o que havia acontecido.
- Um cara subiu no trilho da montanha russa e se jogou lá de cima.
E a menina que acompanhava o garoto, que possivelmente era sua irmã, completou:
- Foi horrível. Eu ouvi os para-médicos dizendo que talvez ele não vá sobreviver.
POSTADO POR TOM